O K-pop está mudando (e é minha culpa)

  K-POP IS DEAD AND IT’S MY FAULT

What's wrong with k-pop?

Um gênero que sempre se destacou pela sua sonoridade tanto alienígena quanto agradável agora abraça ainda mais a comunicação dessa estética para seus Music Videos.

KATSEYE tem sido o olho do momento com sua música “Gnarly”, com uma estranheza sem precedentes em seu MV. O clipe começa com algo que na verdade parece um pouco difícil de conceber, que é o rosto da Yoonchae enrolado em plástico numa bandeja, como se ele tivesse sido arrancado dela. Um sanduíche sem sentido seguido por uma coreografia absurda. 

A música é com certeza um hit mas um hit bem diferente. O público pareceu bastante perturbado pela bizarrice do vídeo, enquanto reclama da falta de profundidade da letra, problema que já vem se manifestando desde o começo da carreira do grupo.

Mas o que ninguém pareceu perceber é o desconforto que vem dos rostos das integrantes na verdade te faz pensar que são clones fazendo coisas completamente absurdas e fora da realidade no lugar delas. Mas esse é o ponto: esse não é o Katseye.

O ponto do desconforto é que não parece que aquele é o KATSEYE, como se o próprio grupo tivesse se recusado a participar daqueles absurdos e fosse facilmente substituído por clones, isso é o que a nova era vêm prometendo de idol feitos por IA que podem viver pra sempre.

A única que parece ter sido não afetada é a Manon, a favorita do grupo, que sempre foi favorecida desde o começo do Debut Academy. De fato, o clipe abraça isso colocando ela no refrão, debaixo de holofotes, e literalmente andando num tapete vermelho. É quase uma implicação de que ela aceitou um acordo, ou empurrou as meninas pra poder ser o centro das atenções.

Na verdade, os elementos absurdos, mas especialmente os efeitos de distorção, as caretas dos paparazzi, tudo dá a impressão de que é um sonho, um sonho da própria Manon,em que ela está no mesmo grupo mas com outras pessoas que a aceitem e permitam exibir esse lado de estrela que ela sabe que é. Mas também, como se seu próprio subconsciente pedisse pra ela não ter vergonha e aceitar os desejos que estão por baixo de tudo.

Encarar a si mesmas e colocar seus conflitos internos em uma música, expressar eles pra fora, é um manifesto que diz: There’s nothing wrong with KATSEYE.




O mundo do k-pop sempre desaba sobre um conflito mas todo mundo varreu pra debaixo do tapete o quanto rancor as meninas sentiam pela Manon. Seja por achar que ela não colocava esforço o suficiente ou era favorecida só por ser um rosto mais bonito, ou por um talento secreto que nenhuma delas poderia obter por trabalho duro. Parece cruel inferir e discutir essas coisas aqui mas o que quero enfatizar é que: o conceito abraçou isso.

Tudo que incomodava, tudo que potencialmente poderia destruir o próprio grupo se tornou o próprio meio de arte para a expressão delas. A sensação de que é ou não é elas vai e volta toda vez que você assiste, como se elas estivessem presas DENTRO das performances. É como se elas não fossem elas mesmas: uma performance. No palco, na sala de prática, no descanso, até as roupas no aeroporto! É tudo uma performance.

Ver as meninas alcançarem esse nível de profundidade em suas performances me explode totalmente. Antes, elas tinham dificuldade com o conceito de um conceito, uma ideia que, como já expliquei antes, é majoritariamente coreana na música de hoje. A música ocidental está só agora começando a mergulhar seus pés nisso e percebendo que o k-pop não é um monte de canções de amor como eles imaginam.

A tendência ocidental de tornar tudo bonito só porque sim na verdade é o que vem corroendo a indústria ao longo dos anos, impedindo música e artistas de realmente se expressar sobre o que está acontecendo.

A 3° geração do k-pop fez de tudo pra alcançar um público, cativar, agradar… e foi exatamente isso que os matou. A influência do ocidente na música coreana permitiu a existência da k-wave, mas sua sobrevivência só é permitida se isso for temporário. Agora as novas gerações, cansados de viver em escombros e sombras, se perguntam: “O que os tornou grandes?” E cabe a eles peneirar cada aspecto para construir algo a partir disso: a revelia, a ganância, mas também o sacrifício, a empatia, a compaixão, tudo isso através do absurdo, a visão artística sem precedentes de comunicar seus anseios, aspirações, quebrar barreiras e regras, alcançar pessoas e um mundo novo.

Find yourself.



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